quinta-feira, maio 27, 2004

Eram 28 os degraus que subi dois a dois até à Praça que me levava ao hopital, cheguei à porta, entrei e por entre perguntas e explicações de que viajara de 400km de distância deixaram-me subir para te ver. Dormias... as máquinas e tubos em que estavas envolta, não indicavam nada de bom. A bata que me fizeram vestir dava-me um aspecto de extraterrestre. Queria que abrisses os olhos, e que me visse, mas tinha ao mesmo tempo receio que te assustasses por estares deitada numa cama que desconhecias envolta num ambiente tirado de um filme de ficção cientifica. Já passaram 4 dias e os médicos mudaram-te para um serviço onde podes ter companhia 24 horas por dia, agora trabalho ao teu lado e passo as noites contigo, leio-te todos os dias livros que tanto gostaste e que são para ti alegrias e formas de viver. Hoje num período que os médicos dizem de decisivo, abriste os olhos e olhaste-me, percorreste o ambiente que te rodeava e as lágrimas escorreram-te dos olhos... abracei-te e senti a vontade de te mexeres mais do que agora consegues... falei-te e ao fim de alguns minutos conseguiste articular um frágil: "Estou muito mal?" as lágrimas escorreram-me e de imediato disse-te que as lágrimas eram apenas por te ouvir pois agora que acordaste era uma questão de tempo e Fisioterapia até estares de novo a 100%... adormeceste de novo pouco depois já na presença dos médicos e enfermeiros que desde o inicio te acompanham. Os sorrisos nas caras deles e as duas única palavras dirigidas a mim pelo médico deixaram-me descansado: "Agora Durma"... Como normalmente nos ultimos dias fiz, sentei-me na cadeira a teu lado e encostei a cabeça a ti junto à tua mão, as lágrimas escorriam-me pelos olhos... e antes de cair no sono, senti a tua mão a acariciar-me como só tu sabes fazer!
João Ogando